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CARLOS ANGLADA │ O madrilenho Bossa Nova (2ª parte)

Continuando com a extensa publicação em Bossa Nova Clube publicado na capa do Segundo Caderno Cultural do jornal "O Globo" de 05/09/2016, queria comentar aqui o grande avanço, impacto e significado que o referido artigo teve na promoção, divulgação e desenvolvimento virtual de nosso " Clube Internacional de Desafinado " dentro do setor musical na internet. A título de exemplo, basta dizer que atualmente nosso canal temático Bossa Nova Clube no YouTube atingiu a importante cifra de +30 mil inscritos e +9 milhões de visualizações, cifras impensáveis há alguns meses. Voltando à referida publicação no seu formato digital e imprensa escrita (como já expliquei na 1ª parte da Bossa Nova Madrilena ) o artigo baseou-se na gravação áudio de uma entrevista pessoal ao jornalista Eduardo Macedo Rodrigues, apoiada num texto específico e detalhou que após análise do Editorial de "O Globo", seria posteriormente publicado na Mídia. Pois bem, por razões que desconhece, acredito sinceramente que o artigo finalmente publicado contém diversas omissões importantes, alterações de dados, datas, diversas imprecisões e imprecisões, tanto no conteúdo acordado como no sentido gramatical de algumas situações e/ou relações com terceiros. . Por isso e com base na entrevista gravada na altura (que ainda tenho), escrevo abaixo o 2ª parte da Bossa Nova de Madrid com a tradução literária completa e correta em espanhol, com retificações, explicações, ampliações e/ou alterações pertinentes, sempre fiel e condizente com a minha realidade e a do Bossa Nova Clube .


Carlos Anglada │ Colecionador espanhol, mantém viva a chama da Bossa Nova
Carlos Anglada │ Colecionador espanhol, mantém viva a chama da Bossa Nova

A matéria de "O Globo" continua assim: Anglada venera os artistas vivos da mesma forma que aqueles que já viajaram às estrelas. Em datas específicas visita, entre outros, Baden Powell , Nara Leão, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, etc., no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro (RJ).

- “Ao longo da minha vida, comenta, sempre me aconteceram coisas curiosas em momentos específicos, situações singulares ou grandes coincidências, quase sempre relacionadas ao mundo da música em geral e da Bossa Nova em particular. , na minha época de turista, resolvi ir ao Cemitério São João Batista, levar algumas flores para Baden Powell (músico que conheci pessoalmente em Madrid), um dos músicos que considero pilares fundamentais na história da música brasileira Música.

Dentro de São João Batista tive dificuldade em encontrar o local específico da minha visita. No escritório administrativo da entrada não me puderam dar qualquer informação, devido à quantidade de burocracia que faltava ordenar, registar, arquivar e/ou gerir. Chamava a atenção a quantidade de documentos empilhados “à vontade”, assim como os grandes livros amontoados nas velhas estantes de metal cheias de poeira...

Dada a falta de informação, resolvi perguntar a um trabalhador da “Santa Casa”, vestido com uma espécie de macacão de trabalho azul índigo. O operador devia ter cerca de 70 anos e realizava trabalhos de manutenção.

- "Bom dia ", por acaso você saberia onde está o músico Baden Powell, falecido ano passado..., você o conhece...?

- Claro que o conheço, venha comigo... Em silêncio, caminhamos pelo corredor central. Passamos em frente ao sóbrio túmulo de Antônio Carlos Jobim, localizado ao lado da única “ palmeira imperial ” de todo o Cemitério. Esta palmeira é originária do mesmo Jardim Botânico da cidade e foi transplantada para lá em sua época, em homenagem ao Soberano Mestre. Virando à esquerda, no meio da curva do referido corredor central, está o túmulo artístico da grande Carmen Miranda, a Deusa Tropical. Carmen Miranda, nascida em Portugal, foi a artista que mais influenciou até hoje a divulgação e promoção da música popular no Brasil.

Percorremos praticamente todo o local, até que ele me conduziu até uma longa parede lateral.

- Aqui é Baden Powell, comentou o árbitro, ele jogou muito...!


Naquela época, e apesar de já terem se passado vários meses desde sua morte (26/09/2000), o túmulo de Baden Powell ainda não estava devidamente identificado com uma lápide. Estava apenas marcado com o número 32 dentro de um círculo.


Baden Powell (1937 ~ 2000) │ Cemitério São João Batista (RJ)
Baden Powell (1937 ~ 2000) │ Cemitério São João Batista (RJ)

Bem ao lado do túmulo do músico encontrei um grupo de pessoas, estavam em silêncio.

Pela proximidade e pelo momento emocionante, iniciou-se uma conversa informal entre nós. Aquele que parecia ser o irmão mais velho da família me perguntou se eu também tinha vindo visitar e/ou me despedir de um parente. Eu disse a eles que na verdade estava ali apenas para agradecer ao grande guitarrista Baden Powell, por toda a música que me acompanhou durante tantos anos. Dito isto, a situação mudou. Com rostos surpresos, eles começaram a se olhar. Eles começaram a se emocionar, dizendo que sua mãe (que estava no túmulo adjacente), durante toda a vida, foi uma seguidora fervorosa e apaixonada pela música de Baden Powell. A família comentou que com esta grande coincidência, de certa forma, o destino com os seus caprichos misteriosos, quis dar-lhes uma espécie de consolo. Continuando com o caráter que motiva esta edição cultural, vale dizer que antes de ouvir os primeiros acordes da Bossa Nova, Carlos (inexplicavelmente) já sonhava virtualmente com o Brasil. Na juventude, já fazia viagens imaginárias ao campo. Aos sábados visitava diversas Agências de Viagens e Turismo de sua cidade natal, Madrid, colecionando cartazes, folhetos e revistas turísticas, preferencialmente com imagens da cidade do Rio de Janeiro. Parada obrigatória foi o escritório da extinta Companhia Aérea Varig, localizado no antigo Edifício España, na Plaza de España.

Sabendo da sua paixão, aos 14 anos recebeu de seu irmão Raúl um presente muito especial de aniversário. Uma bandeira do Brasil. -"Raúl, de onde você tirou isso"...? Perguntei a ele... - "Subi no mastro da Casa do Brasil e tirei de lá... Raúl tinha apenas 11 anos naquela época e literalmente se arriscou só para ver a carinha feliz de seu irmão Carlos.


Carlos Anglada com a bandeira do Brasil │ década de 1950
Carlos Anglada com a bandeira do Brasil │ década de 1950

Essa não era uma bandeira comum produzida em massa, nem um item industrial ou comercial. A peça foi feita à mão “à moda antiga” com pedaços de tecido costurados e tinha o lema “ Ordem e Progresso ” e 21 estrelas bordadas em relevo. Sem saber, Carlos tinha em mãos uma bandeira original originária da década de 1950, bandeira oficial da época do surgimento da Bossa Nova. Outra dessas coincidências foi quando o seu grande amigo Carlos Alberto Afonso, dono da "Toca do Vinícius" | A Casa da Bossa Nova em Ipanema, decidiu criar em sua fantástica loja de música e livraria, uma vitrine-homenagem ao grande Bellini, por ocasião da comemoração da Copa do Mundo FIFA daquele ano no Brasil (2014). Hideraldo Luiz Bellini foi o primeiro capitão da Seleção Brasileira a vencer uma Copa do Mundo de futebol (1958). Para decorar aquela janela, quase foi necessária uma bandeira brasileira da época como figura central. Após várias semanas de busca, a bandeira não apareceu. E foi num comentário casual que Anglada soube do interesse da amiga em obter tal relíquia para sua decoração temática. A famosa bandeira “ondulava” com orgulho atrás do vidro da famosa vitrine “Toca do Vinícius” durante toda a Copa do Mundo de Futebol de 2014.


Vitrine Toca do Vinícius | Instituto e Centro de Referência Bossa Nova (RJ)
Vitrine da Toca do Vinícius │ Ipanema (2014)

Algumas semanas depois do final do Mundial, Carlos Afonso telefonou a Anglada para ir buscar a relíquia que estava emprestada na "Toca do Vinícius". E foi nesse preciso momento em que Carlos Alberto Afonso devolveu com grande cerimónia a bandeira dobrada em triângulo, que Anglada pensou que aquele emblema do Brasil que sempre o acompanhou desde a juventude, símbolo dos seus sonhos, da música que até hoje é apaixonado por isso, e por tantas coisas que lhe estão associadas, que deveria ficar para sempre com Carlos Afonso, na “Toca do Vinícius”. Este local é oficialmente Instituto e Centro de Referência da Bossa Nova no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. Aquela bandeira, depois de quase 50 anos, finalmente está em casa...! Não sei como argumentar de forma coerente, continua dizendo nosso protagonista, mas inexplicavelmente desde que me lembro, de uma forma ou de outra, o Brasil sempre esteve presente em meus pensamentos. Ao contrário do que acontece agora, onde todos temos uma evidente saturação de informação em todos os sentidos, naquela Espanha dos anos 70, vivíamos num ambiente de contínua escassez de notícias internacionais, produto de uma falta de liberdade na comunicação em termos gerais. . Eram as regras do regime militar da época, que basicamente nos diziam o que podíamos ou não ver, ouvir e/ou ler. Basta dizer que durante décadas os artistas internacionais, quando agendaram as suas digressões europeias, apagaram a Espanha da sua “ turnê” , ignorando literalmente o meu país, castigando-nos e privando toda a nossa geração de emoções e experiências, em linha com a nossa idade. Como exemplo prático, comento que o primeiro show de Música Brasileira na Espanha foi realizado em Madrid, no mês de maio de 1981. Foi um dia inesquecível, em que finalmente pude ver Baden Powell tocar a poucos metros de distância. E claro, em todo esse panorama cultural, tudo que envolvesse ouvir outra música que não fosse a nacional ou “politicamente correta” era complicado. Lembro que era quase impossível, por ser bastante restrito, poder comprar discos LP ou discos de vinil importados com músicas diferentes ou alternativas àquelas veiculadas no rádio ou na televisão da época. Meio audiovisual nacional no qual, aliás, existiam apenas os 2 canais oficiais de TV do Estado. Como um grupo de amigos "mais musicais", reuníamos-nos aos fins-de-semana num pub de estilo inglês chamado " Woody ", localizado no bairro madrileno de Argüelles. Meu querido bairro. Ali, durante horas, ouvimos atentamente todas aquelas maravilhas vanguardistas. Foi assim que conheci Miles Davis, Santana, Deep Purple, Yes, Emerson Lake & Palmer, Donovan, Crosby, Stills & Nash, Neil Young, James Taylor e, o mais importante, lá ouvi João Gilberto pela primeira vez.


Lembro-me perfeitamente daquele dia. Naquele momento eu nem imaginava que aquele intérprete com aquela voz suave, que tocava músicas novas e desconhecidas, iria me influenciar tanto que eu faria da Bossa Nova a tese musical da minha vida. Naquele dia em " Woody ", nunca pude prever que aquela música dissonante, sofisticada e perfeita me faria mudar de país e de estilo de vida. E muito menos que o prestigiado jornal "O Globo" iria dedicar uma capa ao Bossa Nova Clube e a mim no Segundo Caderno Cultural.

Calçadão de Copacabana, Princesinha do Mar | O caminho, a verdade e a vida
Calçadão de Copacabana │ O caminho, a verdade e a vida

Carlos Anglada , trabalhou em vários setores em Espanha, comercialmente relacionados com a arte. Criou sua própria empresa de distribuição e comercialização de bijuterias e biojoias brasileiras. Isso lhe permitiu viajar regularmente para o Rio de Janeiro (RJ). Um dia, no Aeroporto Internacional do Galeão, percebeu que estava cada vez mais difícil para ele voltar para a Espanha, ficar longe da cidade carioca que tanto ama novamente. Talvez tenha sido então, quando ele já havia inconscientemente decidido mudar definitivamente sua residência para o Rio de Janeiro (RJ). Circunstância ocorrida em 2010.

Aqui poderá vivenciar de perto o universo musical da Bossa Nova, como sempre quis, e assim poder conhecer de perto e em primeira pessoa aqueles artistas que sempre ouviu em discos durante tantos anos em Madrid.

Carlos é um colecionador de encontros casuais ou planejados, como o que aconteceu em 2003 no aeroporto de Barcelona, na Espanha. Na ocasião, foi receber pessoalmente João Gilberto . Anglada naquela ocasião “excepcional” foi acompanhada por uma miniatura do próprio artista.

Joãozinho
Joãozinho

- " Boa tarde João , bem-vindo a Barcelona ", se tiver um minuto, gostaria de lhe apresentar alguém que assistiu comigo a vários dos seus concertos na Europa. E desenrolando uma pequena toalha bege, apareceu a pequena figura... - " Joãozinho, apresento-vos o meu João , o músico que se mudou para sempre para a Música do Brasil ." João pegou a boneca, olhando-a com interesse por alguns instantes. A realidade é que um João olhou para o outro em silêncio. - " Obrigado ", disse-me ele, pensando que era um presente... - Com licença João , não é um presente, só queria fazer as apresentações oficiais de vocês dois. Ele me devolveu o Joãozinho sorrindo, dizendo que estava com pressa, pois em menos de duas horas tinha que tocar no L'Auditori de Barcelona. Mostrei-lhe o ingresso do show, dizendo que estaríamos nós dois no show... Ele apertou minha mão e foi embora com seus companheiros sorrindo.

Naquele 9 de julho de 2003 foi a segunda vez que João Gilberto jogou no Barcelona. Neste caso, sua arte esteve conosco por mais de duas horas. Foi um Concerto perfeito, cheio de novidades musicais e anedotas. O público, em absoluto silêncio, rendeu-se ao João desde o minuto 1. E eu, auxiliando do centro da fila 4, com a pequena figura (como sempre) a espreitar ligeiramente do bolso superior da minha camisa azul. Seria imaginação minha, mas naquele exato momento pude ver um certo sorriso diferente em Joãozinho..., fiquei feliz e orgulhoso de ter conhecido pessoalmente o brilhante João Gilberto .



Em breve, e para completar a extensa matéria " El madrileño Bossa Nova " do jornal "O Globo", será publicado o último capítulo:


▲ Quem poderá jogar como João Gilberto...? | Hideki Nakajima (Capítulo 3)

Continua │ Vai continuar...


PS ► Este post foi editado originalmente em http://bossanovaclube.blogspot.com em 09/06/2018



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